ensino superior

UFSM investiga apostilas de cursinho por 'conteúdo inadequado'

João Pedro Lamas e Marcelo Martins

Foto: Divulgação
Alternativa-Pré-Universitário Popular oferta, por ano, 200 vagas para quem não pode pagar por um preparatório particular

A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) abriu, no fim da semana passada, um processo administrativo interno para avaliar o material didático do Alternativa - Pré-Universitário Popular, que funciona junto à antiga Reitoria, no centro da cidade.

Em 12 páginas da apostila constam 30 imagens de cunho sexual e sexo explícito além de uma charge com crítica política ao presidente Jair Bolsonaro (PSL), que aparece com uma camiseta com a suástica nazista. O Diário não irá reproduzir todas as imagens porque elas trazem conteúdo sexual.

O material integra uma apostila optativa no caderno de Ficção Brasileira Contemporânea, que é ofertado junto à disciplina de literatura. Na última quinta-feira, a reitoria recebeu uma denúncia anônima acerca da apostila, que é distribuída gratuitamente a alunos que estejam no 3º ano do Ensino Médio ou que já tenham finalizado os estudos.

E, no dia seguinte, o reitor Paulo Burmann solicitou a abertura de uma investigação interna para averiguar o conteúdo. Em função de o pré-universitário ser ligado à Pró-Reitoria de Extensão da UFSM, foi solicitada à coordenação do Alternativa esclarecimentos sobre o material.

Desde sexta-feira, especialistas em literatura contemporânea do Departamento de Letras Vernáculas (do Centro de Artes e Letras) avaliam o material. A Pró-Reitoria de Extensão informou à reportagem que a análise será "estritamente técnica". E enquanto não se tiver o desfecho desse exame por parte desses professores, o material está suspenso momentaneamente e não é trabalhado em aula, que tem alunos adolescentes. 

O reitor assevera que todas as medidas cabíveis foram tomadas e que o episódio deve ser avaliado "com cautela e à luz dos fatos" e que não se pode emitir um parecer definitivo sem a conclusão do procedimento interno.

- Estamos analisando e não vamos execrar ou emitir um julgamento sem antes concluir o procedimento interno. Não vou fazer uma análise do conteúdo, até porque não tenho informações nem acessei a apostila. Apenas sei que o conteúdo seria inadequado. O que se discute é se (o material) é adequado ou não a nível de ensino. Mas é bom que se diga que esse conteúdo que está sendo questionado é parte de um compilado maior de 136 páginas. Ou seja, ele foi tirado de um contexto - diz.

Burmann ressalta que a matéria era optativa e ofertada a quem quisesse discuti-la. O reitor ressalta que, embora essas apostilas tenham sido recolhidas - ele não precisou quantas -, deve-se considerar o papel social do curso:

- Não se pode macular a imagem de um cursinho com longo serviço prestado à sociedade. São ofertadas 200 vagas por ano e um índice de aprovação de 50% dos alunos no Enem. É um serviço que oportuniza, de forma democrática, uma preparação para o ingresso ao Ensino Superior para muitos jovens que não teriam como pagar um curso privado.

VOLUNTÁRIOS
A direção do cursinho informou que irá se manifestar sobre o assunto nos próximos dias. O Alternativa conta com 115 voluntários, entre educadores e acadêmicos dos mais variados cursos da UFSM, que prestam serviços nas áreas educacional, pedagógica e psicológica. Além do Alternativa, há ainda na Federal o pré-universitário Práxis.

O Ministério Público Federal (MPF) recebeu uma representação a respeito da apostilha e avalia o caso no momento.

DIVERGÊNCIAS SOBRE CENSURA E REVISÃO DE PROCESSOS
Fundado em 2000, o Alternativa é um programa de extensão da universidade. Há quase duas décadas, serve como ferramenta de preparação àqueles que não têm condições financeiras de pagar cursinho particular, defende a reitoria. A elaboração das apostilas fica a cargo dos educadores, e esses materiais são oferecidos sem custo e sem cobrança de qualquer taxa aos alunos.

Toda essa autonomia sem um acompanhamento de perto, do que é produzido e distribuído aos alunos, pode ter sido o que desencadeou o episódio. Esse foi o entendimento de um pró-reitor da gestão Burmann que pediu para não ser identificado:

- O propósito é preparar o aluno e não veicular esse tipo de material, que em nada contribui. Aliás, bem pelo contrário, só prejudica. Entendo que vão dizer que é "ficção brasileira contemporânea" e que essa era uma aula complementar, mas mesmo assim. É uma incomodação desnecessária.

O conteúdo, por mais que possa ser questionado, não deve ser o carro-chefe da discussão. Mas, sim, uma tentativa velada de promover censura e de denegrir a imagem da universidade, aponta outro pró-reitor:

- Tem que ser dito que esse conteúdo foi retirado de um contexto por parte de pessoas que querem manchar a imagem da UFSM. Há, hoje, um movimento muito forte de marginalizar a imagem das universidades e me parece que é isso, agora, que está acontecendo - afirma.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Capes desbloqueia quatro bolsas de pós-graduação que estavam suspensas na UFSM Anterior

Capes desbloqueia quatro bolsas de pós-graduação que estavam suspensas na UFSM

UFSM abre 913 vagas para ingresso e reingresso Próximo

UFSM abre 913 vagas para ingresso e reingresso

Educação